"Ando na avenida escura e vazia em direção a algum lugar... ainda não sei qual, é tarde, venho de mais um lugar onde só encontrei quimeras, anda complicado não encontrá-las... Nenhum carro passa pela avenida,nenhum barulho a não ser o som irritante dos meus passos, que fica ainda mais irritante quando se junta ao da caixa de bombons que está no bolso e faz um barulho nojento a cada passo que dou. Em frente uma das oficinas uma mulher loira, usando um vestido vermelho surrado, espera um telefonema, já deveriam ter ligado a horas... mais uma vítima... continuo andando, tentando acreditar que o acaso é que me guia, um casal se assusta quando me aproximo, seria só o medo de serem descobertos? Ando mais um pouco e como em um passe de mágica o longo trecho escuro se ilumina, uma música triste vinda de um bar me acompanha por um tempo... Agora etro em outro estágio, os últimos fiéis deixam a igreja, os primeiros bêbados entram nos bares, os primeiros viciados nos becos, as primeiras prostitutas chegam a esquina... eu me aproximo do meu destino, deixo para trás o trecho recém-iluminado, que volta a ficar escuro quando saio dele, não, não era eu que o iluminava, na verdade a minha sombra o deixava mais escuro... Agora o caminho é iluminado, uma longa avenida vazia e iluminada terminando em algum lugar onde um letreiro vermelho anuncia horas de prazer por um bom preço... Melhor ir logo para casa."